05/12/2017
O empoderamento da mulher com deficiência na sociedade!
Aos
seis meses de vida, eu Ivone de Oliveira, fui diagnosticada
com poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil.
O meu primeiro episódio de preconceito veio de onde menos se espera: da família e diretora da escola onde estudava, que se recusou a mudar a sala de aula para o térreo, fazendo com que abandonasse os estudos.
O meu primeiro episódio de preconceito veio de onde menos se espera: da família e diretora da escola onde estudava, que se recusou a mudar a sala de aula para o térreo, fazendo com que abandonasse os estudos.
Apesar das dificuldades, me formei em contabilidade, sou uma mulher divertida, bem resolvida e a autora
do blog “Gata de Rodas”. Acho que todo
mundo deveria saber sobre a invisibilidade dos deficientes físicos,
no mês da inclusão.
Amigos ótimos, mas exclusão na escola.
“Tive uma infância comum a qualquer criança. Fui muito moleca.
Como não conhecia pessoas com deficiência, gostava mesmo era de
brincar na rua. Empinar pipa fazia a minha alegria. As crianças me
tratavam com a maior naturalidade. A cadeira era só mais um
brinquedo curioso, diferente e divertido.
O primeiro episódio de
preconceito enfrentei justamente nessa fase. Mas ele não veio de um
coleguinha desavisado, veio de um adulto, a diretora da escola. Ela
se recusou a transferir a turma para uma sala no térreo. Isso me
rendeu um distanciamento absoluto dos estudos. Sem nenhuma
alternativa, deixei a escola.
Só voltei quatro anos depois, quando a
direção mudou. Fiz até a oitava série. Com tantas
responsabilidades familiares, minha mãe já não podia mais me
acompanhar no colegial. Só consigo movimentar uma das minhas mãos e
precisava de um acompanhante.
Em
2007, cansada de me ver só em casa em meio ao artesanato que me
distraia, tomei a decisão de começar o supletivo e tirar a carteira
profissional. Na mesma época, ganhei meu primeiro computador. Para
melhorar minhas habilidades motoras, passava horas papeando em
bate-papos on-line. Segura da minha capacidade, me cadastrei em um
site de ofertas de emprego e saí disparando currículo para tudo
quanto era vaga.
As
empresas não estão preparadas para nos receber
Logo veio a primeira
dificuldade. A Lei de Cotas, que obriga as empresas privadas a
preencherem entre 2% e 5% de seu quadro com funcionários portadores
de algum tipo de portadores de algum tipo de deficiência, ainda não
promoveu de fato um avanço. Foram seis entrevistas, que me renderam
seis negativas. Todos estavam preparados para receber deficientes
auditivos e visuais, nenhum cadeirante.
A
acessibilidade é um direito nosso.
Quem a coloca em prática está
respeitando a lei, não fazendo favor. Como não desisto fácil,
segui para a minha sétima tentativa, uma vaga home office de
telemarketing. Era tudo o que eu precisava. Há dez anos, trabalho de
segunda a sexta, das 9h às 15h, da minha casa, com carteira
assinada. Em um ano, minha vida mudou completamente. Sentir-se
produtivo é fundamental.
Fiz
ainda uma superamiga nas redes sociais, que foi ‘as minhas pernas’
durante quatro anos. Graças a essa ajuda, pude realizar o sonho de
fazer faculdade. Entrei em 2008 no curso de ciências contáveis.
Confesso que meu maior desejo era ser psicóloga, mas como cresci em
uma família de contadores, decidi que essa seria também a minha
profissão. Eu me formei aos 43 anos.
O
pior preconceito é o que vem de casa
Não me sinto limitada, posso
tudo o que quero, mas nem sempre foi assim. Nunca vou esquecer do dia
que ouvi do meu pai: “Por que você quer usar sapatos se não
anda?”.Eu era adolescente e isso me marcou profundamente. Fique
deprimida, revoltada. Ser era ele quem deveria me colocar para
frente, o que esperar das pessoas na rua? Naquele momento, veio a
certeza: minha vida só dependeria de mim mesma. Em
vez de me fechar em casa, decidi me abrir para o mundo. Sempre digo
que o que me define é a loucura.
Adoro
ir para balada, me jogar na pista de dança. No Carnaval, curti os
blocos de rua, e fui até para a Parada LGBT. Só não me digam que
sou exemplo de superação. Gosto apenas de fugir das regras.
Digo
que estou solteira, mas aberta a relacionamentos. De modo geral, nós
cadeirantes somos tratados como assexuados. E isso não é piadinha
de Facebook, não. Uma amiga já chegou a ouvir de um desconhecido
durante a gravidez: ‘‘Quem fez isso com você?’. Uma cadeirante
casada e com filhos ainda choca.
Saibam:
somos mulheres, temos desejo, sentimos prazer. Se gostar e se
permitir sexualmente é bom e saudável. Sou a favor de todas as
formas de amor, não me oponho nem ao fetichismo que ainda nos cerca.
Sou a Gata de Rodas e faço disso o combustível da minha
autoestima. Sem dúvida, o melhor elogio que já ouvi.
Parem
de nos tratar como crianças
Entre tantas invisibilidades, a da moda
é uma das que mais me incomoda e reforça um dos pontos mais
problemáticos que ainda temos que enfrentar, a infantilização.
Calço 30 e não aguento mais sapatos da Frozen ou da Mônica. Aliás,
por que mesmo acham que precisamos só de roupa de velcro? Essa é a
prova maior de que falta deficiente físico nas linhas de produção.
Na
rua, falam comigo como se tivessem diante de uma criança no
carrinho. Já ouvi mais de uma vez: ‘Ai que bonitinha, pena que não
anda’. Já passou da hora de sermos tratados como adultos que
somos. A infantilização da pessoa com deficiência vem acompanhada
de um rótulo terrível, o de incapaz. Isso, sim, é limitante.”
Fonte: Estilo UOL
Fonte: Estilo UOL
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